Ex-governador e deputado do PT chama de ‘barbaridade’ ocupação indígena em fazenda de MS; movimentos sociais criticam fala
22 de março de 2023

Zeca do PT criticou a ocupação de uma fazenda em Rio Brilhante; parlamentar afirmou que não há estudos que definam a propriedade como terra indígena.

Entidades e nomes ligados à causa indígena criticaram o pronunciamento do ex-governador e deputado estadual por Mato Grosso do Sul José Orcírio Miranda (PT), conhecido como Zeca do PT, na Assembleia Legislativa. Em sua fala, o parlamentar criticou e chamou de “barbaridade” a ocupação de indígenas em uma fazenda de Rio Brilhante (MS), pertencente a José Raul das Neves Júnior, dirigente petista no município. (Veja o vídeo acima)

Há poucas semanas, indígenas das etnias Kaiowá e Guarani ocuparam a sede de uma fazenda. Na ocasião, viaturas da Polícia Militar estiveram no local. Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) informou que várias famílias acamparam na sede da fazenda e pedem pela retomada da área, que segundo os indígenas, são terras ancestrais.

Durante sessão da Assembleia Legislativa no dia 9 de março, o parlamentar afirmou que a propriedade do amigo foi invadida e que não existem estudos antropológicos que provem que a fazenda é área indígena.

“É uma barbaridade o que se está fazendo com o companheiro, amigo Raul em sua propriedade em Rio Brilhante. De um lado porque não se tem nenhum estudo antropológico definido para dizer que é terra indígena e, do outro, dois ônibus com aproximadamente 80 indígenas ‘derramados’ lá, agora trancaram o portão, ocuparam a sede da fazenda de 400 hectares, proibindo Raul e sua família de tirar de lá aproximadamente sete mil sacas de soja que foram colhidas”, disse.

 Zeca do PT criticou a ocupação de uma fazenda em Rio Brilhante — Foto: Assembleia Legislativa/ Reprodução

Zeca do PT criticou a ocupação de uma fazenda em Rio Brilhante — Foto: Assembleia Legislativa/ Reprodução

Ex-governador entre 1999 e 2006, Zeca do PT foi eleito deputado estadual nas eleições de 2022 com 47.193 votos, sendo o terceiro mais votado no estado. Durante o pronunciamento, o parlamentar disse que esteve em Brasília e que conversou com o próprio presidente Lula sobre o caso. Zeca afirmou que não concorda com a invasão de terras produtivas.

“É uma vergonha, não contem comigo essa gente que sem nenhuma razão ocupa e invade propriedade produtiva, gerando insegurança jurídica e correndo risco de consequência que a gente não tem dimensão do que pode acontecer”, criticou o parlamentar.

Na última semana, o deputado realizou dois procedimentos cardíacos após sentir dores no peito. No sábado, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, cumpriu agenda em Mato Grosso do Sul e visitou a comunidade Laranjeira Nhanderu, área de conflito entre indígenas e fazendeiros.

Indígenas das etnias Kaiowá e Guarani levantaram acampamento em Rio Brilhante — Foto: Reprodução

Indígenas das etnias Kaiowá e Guarani levantaram acampamento em Rio Brilhante — Foto: Reprodução

O que dizem as entidades?

O secretário-executivo do Ministério dos Povos Originários e advogado sul-mato-grossense, Eloy Terena, definiu como lamentável a fala de Zeca do PT.https://d-36379132621705305262.ampproject.net/2303151529000/frame.html

Para o assessor jurídico do Cimi Regional de Mato Grosso do Sul, Anderson Santos, o discurso do deputado é pautado em desinformação e racismo contra os povos originários e busca “desqualificar e deslegitimar a reivindicação da comunidade indígena, prática recorrente desde a colonização do Brasil”.

“A fala do deputado Zeca do PT é desprezível, acentuadamente ruralista. Ignora a existência de procedimento administrativo e até mesmo de perícia judicial antropológica que foi realizada na fazenda vizinha”, criticou o Cimi.

A direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Mato Grosso do Sul também criticou a fala do deputado petista. “A barbaridade é a fome que assola diariamente as comunidades indígenas, que aguardam há anos, a partir de estudos antropológicos sérios, a burocracia estatal pela demarcação de suas terras ancestrais”.

A Assembleia Geral do povo Guarani Kaiowá, denominada Aty Guasu, divulgou carta também repudiando as falas do parlamentar.

“Lamentável e inacreditável a posição do deputado Zeca do PT. Levamos nossa dor e indignação à cúpula do Partido dos Trabalhadores, em Mato Grosso do Sul, e também da direção nacional. Apelamos para aquelas pessoas do partido que são amigas das causas do povo, das causas indígenas e dos direitos humanos”, diz a nota.

Procurada pela reportagem, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) informou que não vai se pronunciar sobre o ocorrido.

Por g1 MS — Mato Grosso do Sul

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